Saúde mental e o estilo de vida do nomadismo digital
Para quem esteja a considerar começar uma jornada como nómada digital, é perfeitamente natural sentir-se algumas reticências em relação ao que vai acontecer. O nomadismo digital implica lançares-te à descoberta, mundo fora, enquanto tomas conta de ti, ao viajares e trabalhares remotamente.
Ou quiçá, talvez sejas uma ou uma nómada com alguns países já riscados da lista. Muitos e muitas viajantes com experiência podem também sentir burnout das viagens, pressão e ansiedade – ao fim de contas, somos todos humanos.
Vamos agora expor alguns dos problemas que possas ter enfrentado, ou que possas vir a enfrentar, como parte do teu processo de adaptação ao estilo de vida do nomadismo digital.
Solidão
A dada altura das nossas vidas, já teremos experienciado um certo grau de solidão. Este sentimento pode ser exacerbado quando falamos de saúde mental na estrada. Isto porque as amizades poderão parecer breves e fugidias, à medida que conheces pessoas e rapidamente transitas para o próximo destino.
Esta necessidade inata do ser humano, a da socialização, pode também ver-se afetada nas tuas viagens, à medida que te moves para países onde desconheces a língua nativa, o que pode originar um sentimento de isolamento social.
Por outro lado, a realidade é que estarás distante da tua família e amigos que se encontram em casa, no teu país de origem. Se a deixarmos tomar conta, a solidão pode tornar-se um problema e rapidamente imiscuir-se – lançando uma nuvem negra sobre a tua jornada como nómada.
Enquanto nómadas digitais, o que é que podemos fazer de maneira a evitar este problema, e ajudarmo-nos a nós próprios(as)? Embora a solidão seja sentida por toda a gente em graus distintos, o primeiro passo é reconheceres o sentimento e libertares-te da culpa associada.
Liga-te a familiares E amigos
O melhor do trabalho online é que podes ter acesso imediato ao contacto com as pessoas que deixaste em casa – amizades e familiares. De combinares chamadas telefónicas regulares com os teus pais a chamadas de vídeo em grupo, manteres-te em contacto com as pessoas que te são próximas irá recordar-te de que não te encontras sozinho(a) no mundo.
Abranda o ritmo
Se estiveres a iniciar amizades que não consegues consolidar antes de passares para o próximo destino, há formas de contornar este problema. Poderá haver várias vantagens em abrandar o ritmo: em vez de passares uma semana num país, fica durante mais algum tempo.
Tal irá dar-te a oportunidade de desenvolver laços com maior longevidade e criar uma rede de suporte, bem como garantir que consegues explorar melhor os locais.
Junta-te a uma comunidade de nomadismo digital
Se existe alguém no mundo que compreende exatamente como te sentes, será um outro ou outra nómada digital. Felizmente, as e os trabalhadores remotos são seres sociais com tendência para se juntarem em várias apps, em espaços de co-working e em eventos locais.
Nos escritórios de trabalho remoto (co-working), encontrarás panfletos alusivos a reuniões e eventos sociais, atividade física organizada e muito mais. Ao juntares-te a uma comunidade de nomadismo, irás desenvolver uma ligação a outros e outras que escolheram o trabalho remoto e que poderão estar lá para ti quando precisares.
Caso estejas a pensar começar (ou continuar) a tua jornada nómada em Cabo Verde, está à vontade para te juntares às nossas redes sociais, nomeadamente à nossa comunidade no Facebook, ou subscreveres à nossa newsletter no website.
Saúde física
Embora a rotina fixa seja algo que evitamos quando abraçamos a vida e trabalho na estrada, é fácil esquecer as rotinas mais positivas. De visitar regularmente o ginásio a manter uma dieta saudável, alguns hábitos não devem ser esquecidos de forma a mantermos a nossa saúde mental e produtividade.
Também não te esqueças da importância do sono. Noites longas a colmatar prazos apertados de trabalho podem afetar muitos e muitas nómadas digitais. Manter horários de sono equilibrados é essencial e trará muitos benefícios. Aliás, poderá ser uma das primeiras coisas a tentar, à chegada, juntamente com uma alimentação mais saudável e a presença em aulas de fitness.
Por oposição, deixar estes hábitos de lado poderá contribuir para problemas de saúde mental acrescidos.
Compreendemos se tudo isto parecer avassalador à primeira vista. É normal que demores algum tempo a habituares-te a uma mudança significativa e a ajustares-te a um novo destino.
Recomendamos que vás introduzindo estes exercícios ao teu próprio ritmo, de forma a que lentamente te possas habituar a manter rotinas físicas que ajudem a tua saúde.
Burnout
O estilo de vida nomádico implica um conjunto de desafios únicos, e um exemplo flagrante será a ansiedade ou burnout de viajante. Poderá ser tentador, para quem sonha ser nómada digital, planear um itinerário inicial repleto de inúmeras cidades e países – todos eles “encavalitados” numa única viagem.
Ao mesmo tempo, estarás a montar, como outros e outras profissionais do remoto, uma agenda repleta de trabalho. Tal poderá dar-te muitas dores de cabeça se pretenderes, quiçá, visitar 10 cidades no espaço de um mês.
Procura a qualidade de vida e… respira
Para aspirantes ao estilo de vida do nomadismo digital, ao invés de planeares tudo ao milímetro desde o início, uma regra de ouro será permitires-te algum tempo para relaxar e evitar o burnout (esgotamento físico e mental) logo no arranque da jornada. Desta forma, poderás também acostumar-te a fatores como o jetlag e cansaço das viagens.
Nos casos dos profissionais do nomadismo na estrada há algum tempo, e que já acusem muito cansaço físico e mental, poderá ser prudente reduzir a quantidade de atividades e viagens frequentes para avaliar um potencial estado de espírito mais em baixo.
Avalia a possibilidade de uma viagem a casa
Caso os sintomas de burnout persistam, como cansaço físico, dificuldade em dormir e uma ausência de entusiasmo, então talvez valha a pena voltar a casa, mesmo que durante um curto período de tempo.
Os e as nómadas digitais não são “exilados digitais” e reconectar com família e amizades poderá ser a forma correta de ajudar a tua saúde mental e recuperar a chama necessária para continuar a jornada.
Reconsidera os teus planos
Por vezes, é preferível voltar à tua “agenda” de nómada digital e compreender que atividades recentes podem estar a causar o burnout. Se passares semanas a fio a beber em bares, vários dias por semana, lugar após lugar, então é possível que as noites mal dormidas levem à fatiga. Além disso, estes momentos vão perder o charme se repetidos sucessivamente.
Como em tantas outras áreas da vida, ressalva-se a importância e as vantagens da qualidade acima da quantidade. Ser nómada digital poderá levar a experiência únicas junto de pessoas que pensam como tu – a variedade é essencial para que estes momentos sejam verdadeiramente inesquecíveis.
Ansiedade
Embora não existam ainda dados sobre a quantidade de nómadas digitais que sofrem com ansiedade, um estudo oriundo do NIMH, Instituto Nacional da Saúde Mental nos EUA, estima que 31.1% dos adultos (quase um terço da população) neste país tenham já experienciado, na sua vida, sintomas característicos de distúrbios de ansiedade.
Em Portugal, o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto avaliou o impacto da pandemia na saúde pública e concluiu que 1 em cada 5 portugueses e portuguesas sofreram com sintomas de ansiedade entre 2020 e 2021.
Em suma, a ansiedade não é – de todo – uma condição enfrentada por poucas pessoas.
Os e as profissionais do remoto encontram-se, de forma frequente, perante novas situações e a viajar para novos países. Tal implica um aumento da incerteza e de potenciais contratempos.
É importante ter em consideração que o desconhecido faz parte desta nova forma de estar do nomadismo digital. Todavia, há várias práticas que podem fazer a diferença e mitigar os sintomas da ansiedade.
Pesquisa os teus destinos e evita dores de cabeça
A investigação atenta pode ser a tua melhor amiga no que diz respeito a minimizar os efeitos da ansiedade. Obtém o máximo de informação possível sobre as tuas rotas, horários, detalhes de trânsito e aprende um pouco da língua local para te poderes orientar. Tudo isto para te preparares e reduzires o stress.
Práticas de relaxamento
Pode parecer simples, mas se te sentires ansioso ou ansiosa é essencial tirares um momento para respirar e relaxar. Muitos e muitas nómadas digitais recomendam técnicas de meditação, por exemplo, para que te possas recentrar.
A pressão rumo ao “sucesso”
Toda a gente enfrenta desafios individuais na sua jornada rumo ao nomadismo digital. Este estilo de vida projeta, por norma, uma “imagem ideal”, nomeadamente na internet, através das redes sociais. Caso não “tenhas sucesso” rapidamente, o sentimento de culpa pode surgir.
Poderás culpar-te por não atingires o “sucesso”, sem teres em consideração as etapas que já conseguiste ultrapassar, em particular se fores iniciante neste mundo.
Poderá também ser fácil veres-te como um “falhanço”, caso não estejas a viver a vida de sonho que amigos(as) e família idealizam.
Para colmatar sentimentos de culpa e a pressão para ser “um sucesso”, destaca-se a importância de refletir sobre a jornada até agora e reconhecer que a viagem rumo ao nomadismo digital tem altos e baixos, bem como muitas reviravoltas, sucessos e desafios ao longo do caminho.
Preservar uma rede forte de apoio poderá ajudar a reduzir o stress, ao reconhecermos que as ligações que fazemos estarão sempre lá – não obstante as potenciais dificuldades enfrentadas.