As ilhas cabo-verdianas – Uma breve lição de história
Dos seus primórdios como uma colónia portuguesa e porto central do comércio de escravos, até à sua independência, Cabo Verde tem uma história vasta que muitos podem desconhecer.
Hoje em dia, as características da cultura e gastronomia locais resultam da mistura entre as raízes da cultura portuguesa e de toda a África Ocidental. Mas como é que estes dois países e suas tradições se tornaram de tal forma inter-relacionados?
Previamente um território inabitado, Cabo Verde tornou-se a primeira colónia europeia ao ser fundada em 1462 quando os exploradores vindos de Portugal chegaram à Ilha de Santiago. Todavia, há registos datados de há mais de 2000 anos atrás que evidenciam a visita prévia de Fenícios, Mouros e outros povos Africanos ao arquipélago.
Depois da fundação do país, o governo de Portugal ofereceu incentivos a cidadãos portugueses para que se instalassem nas ilhas. Simultaneamente, a localização estratégica do território cabo-verdiano não passou despercebida.
Com o comércio transatlântico dos escravos no seu auge, fruto da colonização europeia de territórios africanos, o arquipélago cabo-verdiano tornou-se, ao longo dos séculos XV a XVIII, um ponto de passagem para os navios esclavagistas que viajavam entre a África Ocidental e as Américas (enviando escravos para a América do Sul, nomeadamente para o Brasil, ou para as colónias britânicas que viriam a tornar-se o território dos EUA, entre outros locais diversos).
Estima-se que cerca de 12 milhões de escravos africanos tenham atravessado o Oceano Atlântico via costa ocidental africana. Este mercado do esclavagismo foi abolido em Cabo Verde no século XIX, em 1878, e assim o povo cabo-verdiano viu-se livre do estatuto deste território como porto para o comércio esclavagista.
Em 1975, Cabo Verde orquestrou de forma pacífica a sua separação do território português, afirmando-se como um país independente e que mantém hoje laços de proximidade, nomeadamente no que diz respeito ao contacto linguístico, com Portugal e com a Europa.
Com habitantes portugueses e africanos nos territórios cabo-verdianos, as duas culturas encontraram um ponto de equilíbrio, co-existência e influência mútua que passa pela gastronomia, música, vestuário, até claro – à língua.
A língua materna vs a língua oficial de Cabo Verde
Embora a língua portuguesa, mais especificamente o português europeu ou “português de Portugal”, permaneça a língua oficial utilizada para fins governamentais e dentro do sistema de ensino, a língua materna dos e das locais há muito que é (e permanece) o crioulo cabo-verdiano.
Esta é a língua mãe de praticamente todas as cabo-verdianas e todos os cabo-verdianos, e é a língua que ouvirás com maior recorrência ao visitares o país.
As diferentes línguas crioulas pelo mundo
Em primeiro lugar, é importante clarificar que existem vários tipos de línguas crioulas, as quais surgiram, ao longo da história, do cruzamento entre línguas europeias e nativas de outros continentes, nos territórios – não só africanos, mas também asiáticos, americanos ou da Oceânia – que em tempos foram colonizados por países da Europa. Entre dezenas e dezenas de crioulos, a maioria assume-se como crioulos de base inglesa, francesa, portuguesa ou espanhola.
Por terem perdido o contacto com as suas respetivas línguas maternas, fruto da sua diáspora, pluralidade de culturas, e do contacto com a língua dos colonizadores, os vários povos começaram por desenvolver sistemas de comunicação unificadores chamados pidgin, formas simplificadas de linguagem que permitissem a comunicação em grupo.
Muitas línguas pidgin evoluíram para crioulos (estados linguísticos posteriores) – formas de linguagem estáveis, elas próprias línguas naturais, utilizadas por comunidades e aprendidas desde a infância como língua materna.
A origem da língua crioula de Cabo Verde
A riqueza do crioulo cabo-verdiano
A linguagem do povo cabo-verdiano é muito rica e a sua língua crioula – o kriolu de Cabo Verde ou Kauberdianu (possível representação fonética do crioulo de Santiago) – surgiu há diversos séculos, inicialmente nas Ilhas de Santiago e Fogo, as primeiras a serem colonizadas.
A língua apresenta várias variantes, nomeadamente as predominantes a Barlavento (variante de São Nicolau) e Sotavento (variante de Santiago). Apesar de existirem diferenças de pronúncia, grafia, e gramática, como em todas as línguas, se aprenderes um pouco destas variantes terás maior facilidade na comunicação junto das e dos cabo-verdianos.
De onde surge esta língua crioula?
O crioulo cabo-verdiano tem por base a língua portuguesa e integra-se nos chamados crioulos da Alta Guiné, línguas crioulas da África Ocidental- Guiné-Bissau, Cabo Verde, a região de Casamansa, no Senegal, e a Gâmbia – que foram influenciadas pelo português do ponto de vista gramatical e acima de tudo lexical.
Se no caso de Cabo Verde, a língua mãe, língua crioula cabo-verdiana, mantém uma forte relação com o português, no Senegal e na Guiné-Bissau coexistem as línguas europeias – português e língua francesa – e também um sem fim de línguas africanas influentes.
Desta forma, as línguas crioulas , e mais especificamente as línguas do continente africano, são o espelho de um multiculturalismo e riqueza da língua infindável.
O teu guia linguístico de Cabo Verde
Opção 1: Utilizar português
Como já sabes algum português e talvez até tenhas visitado Portugal, estás com sorte! A maioria dos e das locais vai ser capaz de te perceber (o que é particularmente útil caso estejas à procura de direções).
A língua portuguesa é oficial, permeia o sistema de ensino e também os meios oficiais de comunicação social. Todavia, aconselhamos sempre a curiosidade para conhecer novas línguas e a crioula cabo-verdiana merece estar no topo da lista!
Opção 2: aprender a língua crioula de Cabo Verde (Kriolu)
Caso pretendas esforçares-te um pouco mais para te integrares com a população local, quererás aprender a língua materna e a sua gramática – a língua crioula cabo-verdiana.
Não só conseguirás sacar um sorriso pelo caminho, como esta é uma forma ótima de quebrar o gelo ao conheceres locais pela primeira vez :
Português para Crioulo de Cabo Verde
- Como estás? Modi bu sta?
- Estou bem Muitu ben
- Bom dia Bon dia
- Boa tarde Boa tardi
- Boa noite Bo noiti
- Adeus Te logu / tchau
- Sim Sin
- Não Nau
- Quanto custa? È kantu?
- Por favor Pur favor
- Obrigado(a) Obrigadu
- De nada Di nada
- Nosso Dí nôs
- Muito/Muita/ Muitos/ Muitas Tchêu
Apesar de teres a tarefa facilitada se falares português como língua materna ou segunda língua, a verdade é que, apesar do vocabulário do crioulo de Cabo Verde ser muito parecido com o do português, a estrutura gramatical segue uma base distinta (de origem africana).
Por isso, aconselhamos a que “estudes” um pouco a gramática e a estrutura de organização das frases. Pode não parecer ter muita importância, mas em menos de nada estarás a um perito ou perita no uso da linguagem local.
Opção 3: falar inglês
Sendo Cabo Verde um destino popular para viajantes de todo o mundo, a língua inglesa é muito falada em áreas povoadas por turistas. A Ilha do Sal e a Ilha da Boa vista são dois exemplos de ilhas populares onde o inglês é compreendido até certo nível. A maioria das tours e excursões têm também guias que falam inglês.
Caso pretendas visitar ilhas mais remotas, é possível que precises de depender mais do teu português ou do teu crioulo para te fazeres entender. Por isso, aprender um pouco do idioma local é sempre positivo!