CABO VERDE NA WEB SUMMIT 2023 | AS STARTUPS DO PAÍS
CaboWork: Quiçá possamos andar um pouco para trás. Caso alguém não soubesse o que é a Cabo Verde Digital, o que é que poderíamos dizer sobre este projeto? Porque é tão importante para o estado e para as ilhas cabo-verdianas?
Milton Cabral: A Cabo Verde Digital é um programa que o governo criou para estimular o nascimento de empresas de base tecnológica, aquilo que chamamos de startups de base tecnológica. Portanto, a grande missão da Cabo Verde Digital é criar o ecossistema de inovação para startups.
O ecossistema de inovação tem a ver com o conjunto de instrumentos ou programas que visam apoiar essas startups nas diferentes dimensões. Na dimensão conhecimento, na dimensão financeira, na dimensão plataformas de conexão com outros mercados e outros empreendedores, na dimensão infraestruturas e em outras dimensões. Portanto, a Cabo Verde Digital tem feito este trabalho de criar o ecossistema e depois fazer a governança.
A governança é garantir que os diferentes planos do ecossistema consigam comunicar e criar valor nas diferentes componentes importantes do ecossistema.
CaboWork: Parece ser um trabalho importante, gratificante e que tem sempre mais por onde desenvolver. De que forma é que este projeto tem vindo, desde que foi criado, a mudar o tecido empresarial de Cabo Verde?
Milton Cabral: Por exemplo, eu digo-lhe que nunca se falou tanto em startups tecnológicas ou de empresas tecnológicas privadas, em Cabo Verde, como desde que se criou a Cabo Verde Digital. Portanto, Cabo Verde tem um mercado muito pequeno onde o principal ator tecnológico é uma estrutura de governo, o que durante algum tempo condicionou, digamos assim, aquilo que é o mercado. Portanto, neste momento, com a agenda da Cabo Verde Digital, nós temos observado que tem surgido um conjunto de iniciativas, que são projetos ou produtos de base tecnológica, e que depois se transformam em empresas privadas.
“Nós, neste momento, temos mapeadas mais de 100 startups de base tecnológica”
A maioria, naturalmente, está numa fase embrionária, early stages, porque o ecossistema também é pequeno. O ecossistema tem apenas 3 anos, mas temos já um número relevante de startups que já estão num nível diferente de maturidade, que já prestam serviços, inclusive, para mercados internacionais.
CaboWork: 100 startups num ecossistema tão recente é, sem dúvida nenhuma, um sucesso gigante, não é?
Milton Cabral: Acreditamos que sim.
A CABO VERDE DIGITAL E A CAPACITAÇÃO DE JOVENS CABO-VERDIANOS(AS)
CaboWork: Sem dúvida nenhuma, está então a ter um impacto verdadeiramente importante. O que é que o Milton, nas suas operações do dia-a-dia, faz para cimentar este crescimento?
Milton Cabral: Portanto, a Cabo Verde Digital tem uma agenda de programas que, anualmente, procura operacionalizar. Não só têm uma atuação operacional, mas também a Cabo Verde Digital tenta ser, digamos assim, um ‘advogado’ das startups junto do governo, para criar os instrumentos certos. E nós temos, por exemplo, programas de incubação. Um deles, que tem tido bastante resultado, é a Bolsa Cabo Verde Digital, que é um programa de pré-incubação que incuba 25 jovens a cada 3 meses e oferece a esses jovens capacitação, pocket money, ou seja, um subsídio financeiro para garantir que esses jovens tenham um fôlego financeiro para se focar realmente em aproveitar esta oportunidade e depois uma rede de contactos e mentores para apoiar no seu crescimento.
Mas também temos esse programa que traz startups de Cabo Verde para eventos internacionais, que é o GoGlobal (Go Global Program), onde nós recrutamos, através de um concurso público, 10 startups para estarem nestes palcos e sentirem qual é a tendência do mundo em termos de tecnologia, mas ao mesmo tempo venderem ou exporem os seus serviços, os seus produtos e as suas soluções e estarem em contacto com mercados internacionais. Para além disso, nós temos muitas outras iniciativas que desenvolvemos, como um ator ativo do ecossistema, que visa precisamente aqui dar todo o suporte e dar o apoio às startups de base tecnológica e aos empreendedores tecnológicos.
CRITÉRIOS DE SELECÇÃO RIGOSOS PARA A SELECÇÃO DE EMPRESAS CABO-VERDIANAS PARA A WEB SUMMIT
CaboWork: Muito rico! O que é que distingue as startups que foram escolhidas este ano?
Milton Cabral: Nós definimos alguns critérios para selecionar as startups. Normalmente são 4 critérios. O grau de inovação, o alinhamento estratégico, tem que ser uma solução que tem tecnologia na base, o preparo para receber investimento, ser uma startup que já tenha mais ou menos o seu roadmap definido, e tem que ser uma startup que tenha um produto com capacidade ou potencial de internacionalização.
Portanto, são esses 4 critérios que nós utilizamos para selecionar as startups e foi esses critérios que ditaram, digamos assim, que essas 10 startups que estão connosco aqui em Lisboa fossem selecionadas.
CaboWork: Sim, faz todo o sentido, para apresentar também já um produto completo e que possa ser aliciante também neste ambiente, não é?
Milton Cabral: Exatamente! Mas nós acreditamos especialmente neste programa, a GoGlobal. É um programa que tem um potencial enorme. Mesmo que as startups não tenham ainda a escala, mas pelo simples facto de estarem em eventos desta natureza, com esta intensidade, expõe-os a um cenário que obriga-os depois a dar um próximo passo. E nós, aquilo que eu tenho definido é que em Cabo Verde nós temos jovens, com talento, muita capacidade técnica, mas pelo facto do país ser pequeno, há algumas limitações. O horizonte e outras limitações, não é?
Então, este programa permite alargarmos o horizonte e quando alargas o horizonte a uma pessoa, a uma comunidade que tem a capacidade técnica, aumenta-se o potencial.
CaboWork: Claro, o céu passa a ser o limite, não é?
Milton Cabral: Exatamente!
CaboWork: E para a Cabo Verde Digital, o que é que está reservado para o futuro?
Milton Cabral: Nós acreditamos que os próximos dois anos são anos cruciais para nós consolidarmos o ecossistema. Portanto, já temos a fundação do ecossistema, já temos a base estabelecida, já temos uma massa crítica. O futuro tem muito a ver com consolidar o ecossistema, garantir que o ecossistema ganhe a maturidade necessária, contribuir para que possamos ter um ecossistema também de financiamento, acesso a capital, nomeadamente Venture Capitals e outros componentes importantes do ecossistema e alcançar novos ecossistemas, alcançar uma perspectiva de estabelecer parcerias com outros ecossistemas ao redor do mundo e tornar Cabo Verde realmente numa Tech Islands in West Africa.
CaboWork: Muito obrigada, então, por falarem connosco. O nosso objetivo é também continuar a aprofundar a relação com as instituições do país de Cabo Verde, para poder também conectar os nómadas digitais com este tecido empresarial em crescimento.
Milton Cabral: Exato, exato.
CaboWork: E, portanto, muito obrigada pelas palavras e pelo tempo.
Milton Cabral: Nós é que agradecemos pela oportunidade.