Principais temas deste artigo:
- A Organização Mundial de Saúde (OMS) certificou Cabo Verde como país livre de Malária. Tal torna o arquipélago no 3.º a receber esta distinção no continente africano.
- Desde 2007, o planeamento estratégico centrou-se em diagnóstico, tratamento e investigação de casos. Tudo isto ajudou Cabo Verde a atingir a meta de três anos consecutivos com zero casos indígenas de paludismo no ano de 2017.
- Ao afirmar-se como exemplo à escala planetária, Cabo Verde apresenta-se como um ator essencial na luta contra a malária, uma doença mortífera.
Malária – O que precisas de saber
A malária, também intitulada paludismo, é uma doença infeciosa endémica, potencialmente fatal. Resulta da picada de mosquitos e tem um impacto considerável em muitas regiões tropicais e subtropicais à escala global.
Os sintomas surgem no prazo de 7 a 30 dias após a picada e incluem febres altas, calafrios e fadiga. Em caso de não tratamento, o quadro clínico pode progredir para anemia severa, falência de órgãos e malária cerebral. As crianças e as mulheres grávidas sofrem maior risco de complicações severas.
Sobre os países do continente africano recaí o peso da esmagadora maioria dos casos de paludismo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em África foram registados 90% dos 240 milhões de casos e 600.000 mortes à escala global. Isto apenas no ano de 2020.
Os fatores que potenciam a transmissão da malária em países africanos incluem: o clima ideal para a proliferação dos mosquitos, sistemas de saúde pública sobrecarregados e falta de recursos, e ainda barreiras ao acesso a instrumentos de prevenção e a tratamentos que salvam vidas.
O sucesso de Cabo Verde na luta contra a doença e na sua eliminação demonstra a capacidade do país para enfrentar e superar estes desafios. Tal estende-se à luta contra outras doenças transmitidas por mosquitos como, por exemplo, dengue.
Transmissão de malária em Cabo Verde
Cabo Verde tem-se deparado com epidemias recorrentes de malária desde 1950, altura em que todas as ilhas foram consideradas endémicas para a doença. Em meados do século XX, a transmissão no país era intensa em áreas populosas, com epidemias severas regulares a devastarem comunidades que se debatiam já com dificuldades económicas.
Os primeiros progressos foram alcançados via campanhas de pulverização de inseticidas nos anos 60–80, conseguindo-se um breve período de eliminação da doença em duas ocasiões. No entanto, lacunas no controlo e vigilância contínua permitiram o ressurgimento da malária.
Desde o final da década de 1980, a doença concentrou-se essencialmente nas ilhas da Boa Vista em Santiago. Todavia, os riscos de importação para outros territórios mantiveram-se tendo em conta a movimentação frequente de pessoas a partir de África continental.
Mesmo considerando os desafios da dinâmica de transmissão variável, as limitações de recursos e a prevenção da reintrodução, Cabo Verde manteve-se firme ao longo de décadas, aumentando gradualmente as intervenções até progredir no sentido da eliminação da malária em 2017.
Um Marco Histórico
Para Cabo Verde, esta meta remete-nos para uma jornada de sete décadas que exigiu investimentos metódicos para reforçar a deteção e a capacidade de resposta em todo o país. Tudo isto coexistindo com as abordagens sistemáticas para combater a importação da doença.
Ao conseguir equilibrar com eficácia o reforço do sistema de saúde e as intervenções específicas em cada ilha, Cabo Verde fez com que a malária deixasse de ser um flagelo endémico de saúde pública e cumpriu um sonho: em apenas 10 anos, desde o último caso autóctone, a doença foi eliminada.
O Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da OMS, recentemente defendeu que:
“A certificação da OMS de que Cabo Verde está livre do paludismo é um testemunho do poder do planeamento estratégico da saúde pública, da colaboração e do esforço sustentado para proteger e promover a saúde.”
Alcançar esta meta histórica posiciona Cabo Verde como apenas o terceiro país em África a atingir a eliminação do paludismo, não obstante a limitação de recursos. Tal define um exemplo ambicioso (mas viável) para outras nações que estejam a caminhar para um futuro livre de malária.