O que é o nomadismo digital lento (digital slowmadism)?
Quer sejas um ou uma nómada digital ainda a começar as tuas viagens ou tenhas já bastante experiência, a verdade é que ninguém tem mais do que 24 horas por dia disponíveis. Se equacionarmos o sono (que nunca deve ser descurado!), então ficamos com um número reduzido de horas livres para tudo o resto: comer, trabalhar, fazer exercício físico e explorar os nossos destinos. Oh, e já mencionámos trabalhar?
Para novos e novas nómadas digitais, poderá ser bastante tentador olhar para as experiências que as pessoas partilham nas redes sociais e tentar encher a agenda de viagens com o máximo de destinos e países possíveis. De voos frequentes ao saltitar constante de hotel para hotel, poderás chegar a um fase em que o teu cérebro está a funcionar a um ritmo de 150%, 24 horas por dia, o que é a receita perfeita para ansiedade galopante.
O nomadismo digital lento e o conceito de slow travel encorajam-te a abrandar o ritmo da viagem. Em vez de ficares uma semana, porque não prolongar a jornada durante um mês? Isto não implica ficar num país para sempre (embora, caso te apaixones pelo destino, porque não?).
6 benefícios deste estilo de vida para nómadas digitais
Um ritmo de viagem mais lento traz inúmeros benefícios e é incrível ver a mudança em muitas pessoas, ao permitirem-se a imersão verdadeira num ambiente e o tempo para relaxarem. Quais são, então, os benefícios a ter em conta quando falamos de nomadismo digital lento?
1. Estabelecer relações mais profundas
Esta sequência soa-te familiar? Escolheste o teu próximo destino e, ao chegares, decides marcar presença num meet up local para conheceres outros e outras viajantes. Nem precisas de te preparar, pois de certeza que já conheces estas quatro perguntas na ponta da língua:
- De onde vens?
- O que é que fazes?
- Quanto tempo vais ficar aqui?
- Para onde vais, de seguida?
Apesar de ser incrivelmente interessante conhecer outras pessoas com uma paixão semelhante pela experiência da viagem, estas questões acabam por se tornar cansativas. Compreendemos que seria um pouco estranho se alguém chegasse e, desde logo, te perguntasse qual é o teu medo mais profundo. Mas, e daí, pelo menos isso seria um pouco mais interessante.
Depois do meetup, está na hora de fazer a troca de credenciais nas redes sociais e eis que cada pessoa vai à sua vida, muitas vezes partindo para outro local passados poucos dias. Em breve, toda a gente que conheceste se funde numa espécie de névoa e já é sequer difícil lembrar os seus nomes.
Uma vez mais…soa-te familiar?
Ir além das quatro perguntas
Com as nossas agendas ocupadas como nómadas, poderá ser difícil dedicar tempo a estabelecer ligações fortes. A jornada nomádica lenta dá-te mais daquilo que realmente precisas nos teus destinos (tempo).
Formar relações próximas irá reduzir a solidão, em particular para viajantes a solo. Claro, tanto tu como as tuas novas amizades precisarão de ficar durante tempo suficiente para estabelecer uma ligação.
Por isso, se estiveres a tentar encorajar outros e outras nómadas a prolongar uma estadia, porque não mandar-lhes este site e este artigo? Ou melhor ainda, encoraja-os/encoraja-as a juntarem-se à nossa comunidade de nómadas no Facebook…
2. Estabelecer uma rotina
O tempo voa quando te estás a divertir. Eis que, quando dás por isso, tens vários prazos de entrega encavalitados. Essa parte é menos divertida.
Todos e todas sabemos o quão importante é a rotina e a calendarização, quer estejas a gerir um negócio próprio à distância ou a trabalhar remotamente para empregadores. A última coisa que queres é que o teu trabalho (ou a tua atividade própria) sofram como consequência da falta de rotina.
Apesar da liberdade do nomadismo, a verdade é que viajar constantemente entre cidades poderá não ser a melhor receita para uma estrutura organizacional competente. Todavia, não é por isso que precisas de deitar fora o sonho da viagem. Há outra opção!
Caso abrandes o ritmo da tua jornada, poderás na mesma usufruir da descoberta do mundo, enquanto estabeleces um melhor balanço entre a tua vida e a tua rotina laboral.
Se não tiveres de te preocupar com três voos numa semana, poderás centrar-te em fazer o trabalho atempadamente e melhor desfrutar da energia do local onde te encontras.
3. Conhecer o teu destino
Alguma vez tiveste a sensação, ao deslocares-te para o próximo destino, de que deverias ter tirado alguns dias adicionais para explorar a área ou ter uma ou outra experiência que ficou em falta?
Embora o nomadismo digital “tradicional” te dê a hipótese de ver muitos países, cidades ou vilas num curto espaço de tempo, frequentemente apenas desfrutas dos destinos de um ponto de vista superficial, limitando-te às experiências mais turísticas.
Como nómadas, compreendemos perfeitamente. Depois de trabalhares oito horas por dia, não sobra muito tempo para caminhadas no meio da floresta ou para explorar lugares inusitados.
Os inúmeros benefícios do nomadismo digital lento, ou slow travel, como estabelecer uma rotina ou criar relações mais profundas, permitem-te também explorar tudo com maior atenção. Isto na companhia de novos parceiros e novas parceiras de aventura.
Outra vantagem a ter em conta, em relação a ficar num local durante mais tempo, é que terás oportunidade para aprender mais sobre a cultura e o idioma locais. Esta aprendizagem, nomeadamente da língua, irá permitir-te uma maior ligação à população local, algo que pode ser difícil para muitos e muitas nómadas digitais.
4. Retribuir
Nós, nómadas digitais, ganhamos muito com a oportunidade de viajar. Do crescimento pessoal à aprendizagem acerca de novas formas de vida, estas experiências podem mudar as nossas vidas e tornar-nos pessoas mais plenas.
Uma ótima forma de construir uma relação com a comunidade local é através da participação em programas de voluntariado locais. Atividades como limpeza de praias, trabalho num banco alimentar, a adesão a programas de conservação da natureza, ou simplesmente a aquisição de produtos locais são todas formas excelentes de “dar de volta”.
Em vez de comer fast food pouco saudável, quem opta pelo conceito de slow travel poderá escolher utilizar ingredientes locais para cozinhar e privilegiar restaurantes regionais em oposição a cadeias internacionais. Desta forma integrará um movimento internacional chamado slow food movement, com representação à escala planetária.
A slow food, um complemento perfeito para o conceito de slow travel, ajuda economias e comunidades locais a atingirem a prosperidade económica. Como (enorme) vantagem, experimentarás comida regional imperdível!
Por isso, da próxima vez que fiques um mês ou mais num lugar, não te esqueças de averiguar os programas de voluntariado e fazer as compras dos teus artigos essenciais em espaços e mercados locais. Não só conectarás com a população, como criarás um impacto positivo com o teu nomadismo lento.
5. Poupar dinheiro
Embora o tema do dinheiro e custo de vida não seja o mais divertido, a verdade é que viajar entre cidades e países rapidamente poderá levar a gastos avultados. Ao longo do tempo, as poupanças vão desaparecendo e tal poderá encurtar a tua viagem, caso a conta bancária seque.
Viagens frequentes por ar e por terra são caras, em particular considerando a tendência de aumento de preço dos combustíveis. Se ponderarmos ainda o alojamento, é fácil compreender porque é que tantos e tantas nómadas digitais acabam por antecipar o regresso a casa.
Ficando durante mais tempo numa localização, é possível obter melhores preços em estadias de longa data, gastando por norma menos do que se marcasses vários hotéis para um mesmo período de tempo. E, ao estudares mais sobre o teu destino, aprendes também mais sobre outras formas de poupar dinheiro, como por exemplo optar pela utilização do transporte público.
6. Proteger o ambiente
Por último, mas de certo não menos importante, o conceito de slow travel ajuda a proteger o ambiente e os seus recursos naturais ao reduzir a nossa pegada ecológica. Cerca de 2.4% das emissões globais de CO2 vêm da indústria de aviação. Enquanto nómadas digitais e tendo em conta os nossos hábitos de voos de curta e longa distância, estamos sem dúvida a contribuir para este problema.
Abrandar o ritmo das viagens ajuda-nos a aprender mais sobre esta temática e a reduzir o impacto negativo que temos sobre o ambiente. Podemos também optar por formas de transporte mais conscientes do ponto de vista ecológico, como por exemplo: comboio elétrico e outros veículos semelhantes, bicicletas, trotinetes, entre outras.
Slow travel e saúde mental
A tua saúde mental tem um papel muito importante na forma como vives a jornada nomádica. Poderá ser fácil deixá-la em segundo plano quando estamos constantemente a viajar para novos locais e a viver experiências díspares. Passado algum tempo, tal poderá levar a burnout de turista, algo que nómada digital algum quer.
O nomadismo digital lento apresenta muitos benefícios e o seu impacto na nossa saúde mental é, sem dúvida, um dos mais importantes. Algumas das benesses antes mencionadas neste artigo, como a capacidade de estabelecer relações humanas mais fortes ou criar uma rotina, contribuem para que os nossos pés não deixem de estar assentes no chão. Em último caso, tudo isto é essencial para a nossa saúde mental.
Existem desvantagens associadas ao nomadismo lento ?
Podíamos falar para sempre acerca das magníficas vantagens do conceito de slow travel, mas também é importante dizer que este ideal não é perfeito para qualquer pessoa.
Embora possa ser uma boa oportunidade para quem tenha uma agenda de trabalho pesada e queira, ainda assim, descobrir a fundo a cultura local, para quem tenha uma agenda mais leve ou mais facilidade em lidar com a carga laboral, então poderá achar preferível ficar num sítio menos tempo.
Compreendemos o quão empolgante é uma viagem com constantes novos estímulos. E mesmo que não queiras abrandar totalmente, incorporar alguns aspectos do nomadismo lento, como por exemplo incorporar formas de transporte mais ecológicas, poderá ajudar muito.