A CaboWork conversou com alguns jovens quadros cabo-verdianos, para perceber melhor esta nova vaga de emigrantes de Cabo Verde. Alguns dos nossos entrevistados pediram-nos encarecidamente que usássemos os seus depoimentos, embora sem revelar a sua identidade.
É o caso de um jovem cabo-verdiano, residente na ilha do Sal e que, atualmente ocupa um cargo de chefia intermédia num dos resorts da cidade de Santa Maria. Para ele, “novas oportunidades e melhores condições de vida”, têm sido o motivo principal que leva os jovens cabo-verdianos a deixar o seu país e, muitas vezes, a família e filhos, para tentar a vida no estrangeiro.
Quadros cabo-verdianos e as oportunidades em Portugal
Vários colegas do nosso entrevistado participaram recentemente num recrutamento efetuado por uma empresa portuguesa, após a notícia de que o Algarve precisava de mais de cinco mil novos quadros e que Cabo Verde e os seus trabalhadores do setor turístico estavam na mira de Portugal para preencher as vagas.
Contudo, conta-nos a ‘boca miúda’ que o diretor de recursos humanos do resort onde trabalha interveio no sentido de “desencorajar os colaboradores a embarcar nesta aventura”.
Para a CVE – Cabo Verde Empresas, permitir que as empresas portuguesas, ou outras, recrutem milhares de trabalhadores cabo-verdianos poderá ser “um desastre para Cabo Verde”. Andrea Benolli vai mais longe e manda um recado ao Governo cabo-verdiano, “nós não somos viveiro da mão-de-obra do Algarve”.
O representante do Turismo do Algarve justificou a preferência pelos cabo-verdianos pela qualificação profissional, que já deu provas de estar à altura e também pelo facto do português ser a língua oficial em Cabo Verde.
Uma outra empresa portuguesa, a Carris Metropolitana, levou também recentemente 60 condutores de autocarros de Cabo Verde para trabalhar em Portugal.
Testemunhos de quadros cabo-verdianos
Uma jovem empresária e mãe solteira, natural de Santiago, que também prefere o anonimato, decidiu recentemente deixar Cabo Verde e optar pela emigração para os Estados Unidos da América, seguindo o exemplo de várias gerações de cabo-verdianos.
“Não quero mais ver a minha filha crescer em Cabo Verde. Sinto-me cercada. Escasseiam oportunidades. Incomoda-me a falta de ética das pessoas nas relações profissionais, a metodologia de ensino nas escolas, o problema da conectividade entre as ilhas, o acesso aos produtos e matérias primas, a excessiva burocratização no licenciamento e certificações de empresas que ameaça a viabilização dos negócios. Enfim, são vários os fatores que me levaram a tomar essa decisão”, explica.
Steven Lekhrajmal, natural de Mindelo, também acaba de aceitar uma oportunidade de trabalho no estrangeiro. Desta vez, não em Portugal, mas numa empresa holandesa. O jovem mostra-se satisfeito com o novo emprego. “O trabalho é duro, mas foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. A remuneração é excelente, trabalho durante três meses em alto mar e tenho um mês de férias em Cabo Verde”, conta-nos.
Roberto Nunes da Silva, antigo emigrante cabo-verdiano nos Estados Unidos, considera que esta situação pode ser boa para algumas pessoas que passam por dificuldades, mas “não é boa para o país. Não podemos obrigar os jovens a sair e ficar apenas com a população idosa e os turistas”, considera, fazendo uma analogia com o futebol. “Somos como uma pequena equipa de futebol com bons jogadores, mas, sem condições para mantê-los”, afirma.
Autoridades com opinião favorável
Uma perspetiva diferente parecem ter as autoridades nacionais. A administradora executiva do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Cabo Verde vê com ‘bons olhos’ a migração laboral para Portugal. Para Aldina Delgado, em declarações à agência de notícias de Cabo Verde, esta é “uma grande oportunidade” para jovens de Cabo Verde e uma forma de reduzir o desemprego no país.
O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Sotavento partilha da mesma opinião. Marcos Barbosa defende que, sobre essa matéria, não vê “problemas nenhuns”. Em entrevista a um semanário cabo-verdiano, Barbosa disse que “já é tradicional que os cabo-verdianos emigrem para Portugal para trabalhar, tal como o fazem os brasileiros e pessoas de alguns países asiáticos”.