Inovação tecnológica vinda das ilhas de Cabo Verde na Web Summit 2023
De acordo com Danila Silva, a empresa de desenvolvimento de software reconheceu uma necessidade no mercado. Entre várias empresas de tecnologia com as quais colaboram, muito do seu esforço é gasto em tarefas rotineiras e apenas cerca de 40% do tempo é bem empregue.
Escrever código deveria ser o foco central numa empresa de software, mas os passos necessários para chegar ao/à consumidor/a (como configuração da cloud, segurança ou settings gerais) não acrescem valor a empresa e representam uma porção significativa do trabalho.
O processo clássico de produção de software envolve custos de gestão da infraestrutura e ciclos de desenvolvimento longos, os quais serão mitigados pela nova solução da Chuva: LESS. Como defendido por Silva, a ferramenta Less “automatiza todo o trabalho e poupa dinheiro no processo”.
Danila Silva enfatiza que as equipas responsáveis pelo trabalho de desenvolvimento com mão de obra mais intensiva coincidem com as que têm custos de remuneração mais elevados para a organização.
Se este processo for simplificado através da eliminação de papéis supérfluos, sobrarão apenas as tarefas mais essenciais: escrever código e implementá-lo junto de clientes.
A Chuva, uma startup inovadora na paisagem cabo-verdiana, está agora a disponibilizar a ferramenta LESS junto de negócios que procurem recorrer à sua estrutura para simplificar os seus processos.
Chuva, a ferramenta LESS e estratégias simplificadas de automatização
Em desenvolvimento ao longo de três anos, a ferramenta foi inicialmente concebida para uso interno. A consultora de negócios da Chuva enfatizou, aliás, que nunca foi planeado que evoluísse para produto. Todavia, a startup rapidamente reconheceu o seu potencial no mercado.
Perguntámos à start up Chuva de que forma é que o seu fundador e colaboradores/as começaram a pensar sobre automatização de forma tão sistemática e a resposta não deixou margem para dúvida: “Vamos imaginar que temos quatro clientes distintos: então teremos de repetir o processo quatro vezes e desta forma estamos a desperdiçar os nossos recursos. Os nossos developers repetem ações e gastamos demasiado tempo. Automatizar permite que o trabalho seja reciclado e que mais output de software seja gerado na mesma quantidade de tempo”.
Web Summit 2023 | Alphas num grande evento tech
“Somos a única empresa de cabo verde como startup alpha”
Danila silva
Enquanto uma participação regular exclui a possibilidade de ter um stand/banca de empresa, a Chuva destacou-se como presença notável na Web Summit 2023 ao destacar uma solução de software capaz de atrair investidores e interesse.
Este envolvimento estendeu-se ainda ao Showcase de Startups, um lugar onde a marca é capaz de adquirir maior projeção. Como Silva partilhou connosco, de mentoria a sessões de aconselhamento, passando por mesas redondas ou reuniões direcionadas, o estatuto Alpha na Web Summit 2023 enriquece o valor e riqueza da participação de uma startup.
Exploração tecnológica e expansão para startups e outras empresas de Cabo Verde
A partir de uma pequena ilha no meio do Oceano Atlântico para o mundo, os cabo-verdianos e cabo-verdianas poderiam sentir-se inibidos no sentido de sonhar em grande. Este não é o caso. Antes pelo contrário: a nossa conversa revelou um desejo ilimitado de expansão tecnológica.
O que separa Cabo Verde de Silicon Valley? (…) Está tudo na nossa mente, está tudo no nosso talento.
Danila Silva
Danila partilhou um sonho muito concreto: em último caso, tudo se resume a fazer as escolhas certas. Escolher o rumo correto para assumir o papel de exemplo líder entre os países de África e para todo o mundo.
A Chuva Foundation | A presença sem fins lucrativos e ‘o problema da galinha e do ovo’
A Chuva Foundation desenha a separação entre a presença empresarial da Chuva e a sua faceta como fundação sem fins lucrativos. A associação dedica-se a empoderar a cidade de Mindelo e a ilha de São Vicente, onde opera. Inúmeros eventos comunitários e projetos são fomentados de forma a dar seguimento a esta missão.
Como nos foi dito por Danila Silva: “A fundação centra-se apenas na comunidade. Sempre dissemos que temos um problema da galinha e do ovo em Cabo Verde. Queremos construir um ecossistema tecnológico, mas precisamos de pessoas para desenvolver esse trabalho. E essas pessoas só surgem com o ecossistema. Por isso, estamos a capacitar as pessoas. Por isso é que começámos a Chuva Academy, um programa de 16 semanas, totalmente gratuito, que prepara a juventude cabo-verdiana para o mercado de desenvolvimento de software e que ajuda com a procura por empregos.”
Também nos foi apresentado o ambicioso clube de leitura “Chuva D’Ideias”, o qual reune todas as semanas para ler livros e fornecer ferramentas para o sucesso no mundo dos negócios. A ideia é empoderar os e as estudantes, nomeadamente crianças e jovens das áreas mais desfavorecidas de São Vicente.
O software é apenas mais uma ferramenta para desenvolver a nossa comunidade
Danila Silva
Tal como outras das startups (cabo-verdianas e não só) que visitaram a Web Summit, a Chuva sonha com um mundo melhor, o desenvolvimento da sustentabilidade. Antes de mais, sonha-se também com o crescimento da paisagem cabo-verdiana.
Ideas para o futuro: laboratórios e espaços de trabalho partilhados
A Chuva está a trabalhar para construir infraestrutura adicional para o futuro. Entre várias ideias, surge a proposta para a criação de um espaço de cowork multifacetado onde nómadas digitais e outras empresas em Cabo Verde possam coexistir. Um local onde existam laboratórios para crianças onde estas possam aprender acerca de robótica, desenvolvimento de software e mecânica.
Na fase presente, a Chuva está à procura dos parceiros certos e do capital para avançar com este conjunto de atividades pioneiras que deverão arrancar nos próximos anos.
Nilson Nascimento | Uma conversa enriquecedora com o CEO da Chuva
Durante a nossa passagem pela Web Summit, tivemos uma conversa enriquecedora com a mente por detrás da startup Chuva – Nilson Nascimento.
CaboWork: De que forma podemos definir a Chuva?
Nilson Nascimento: A Chuva é uma empresa de desenvolvimento de software. A nossa missão é criar comunidades sustentáveis através das artes e da ciência. Temos uma organização com fins lucrativos e uma sem fins lucrativos. A fundação centra-se na educação e preparação de cabo-verdianos/as para a entrada no mercado como engenheiros de software.
Ocupamo-nos tanto de hard skills como de soft skills. Recentemente, contratámos algumas pessoas a partir de um bootcamp e que agora estão a trabalhar na nossa empresa. Além disso, também fomos capazes de arranjar colocações para elas em outras empresas em Cabo Verde. Porque é que fazemos isto? Não temos grande indústria de tecnologia ao não termos talento tech. Não podemos desenvolver talento sem uma indústria. Desta forma, criámos a solução LESS – o nosso foco nesta Web Summit.
LESS e como o fator diferenciador da companhia se destaca
Nilson Nascimento: o nosso objectivo passa por formar parcerias estratégicas e assegurar investidores para o nosso projeto. E o que faz o LESS?
A ferramenta LESS automatiza 60% do trabalho de desenvolvimento de software. Um programador júnior poderá assim centrar-se nos 40% que correspondem aos objectivos e fator diferenciador da empresa. Os 60% que automatizamos diz respeito à parte totalmente indiferenciada, igual em companhias e países de todo o mundo. Esta é também a parte que requere mais experiência, anos de experiência, o que naturalmente leva a custos mais elevados. Em média, pagarás o dobro do salário em comparação com o de quem está efetivamente a desenvolver o projeto e propriedade intelectual.
É um desperdício de tempo, de dinheiro e de recursos.
“Estamos a acelerar o tempo de chegada ao mercado ao recorrer a esta tecnologia. Torna-se muito mais acessível a engenheiros/as jovens, que é a nossa realidade em Cabo Verde. “
De momento, não temos programadores com elevada experiência e, desta forma, estamos a avançar no tempo. Pegamos em alguém com um ou dois anos no mercado e fazemos com que produzam tanto como alguém com 8 a 10 anos de prática. Esse é o nosso objectivo.
Impulsionar o progresso em Cabo Verde e em África
CaboWork: Esta é uma excelente proposta. Quais são as esperanças para o futuro de Cabo Verde no que diz respeito à expansão tecnológica?
Nilton Nascimento: Estamos a fazer avançar a linha da frente. Como disse, em duas frentes. Tanto em termos de desenvolvimento de software como no aspecto educacional. Acreditamos que, para ter sucesso, temos de nos mover em conjunto. E pensamos que usar a plataforma LESS, em particular, vai dar uma vantagem competitiva a Cabo Verde.
“Mencionei que o desenvolvimento de software estava a avançar no tempo. Tal aplica-se também a Cabo Verde na sua totalidade.”
À medida que Cabo Verde cresce no setor tecnológico e forma, digamos, uma base para a sua operação quase a partir do zero, temos a capacidade para acelerar esse processo significativamente.
As várias soluções da Chuva: De pagamentos P2P a gestão de negócios e integração de faturas
Nilton Nascimento: Temos outros produtos. Por exemplo, temos uma plataforma de transferência de pagamentos peer-to-peer que permite enviar pagamentos instantaneamente utilizando apenas o número de telefone. Assim, é possível enviar pagamentos para qualquer número de telefone cabo-verdiano. Quer esteja em Cabo Verde ou em qualquer outra parte do mundo. Podemos criar uma conta e enviar dinheiro para qualquer pessoa com uma extensão gratuita +238. Assim, qualquer número de telefone cabo-verdiano pode receber dinheiro.
Mas também abrimos o acesso a APIs públicas. Qualquer empresa no mundo que queira processar pagamentos online digitalmente pode utilizar a API do Bing para o fazer.
Temos uma plataforma de gestão empresarial que trata de recibos, faturação, etc. Pagamentos online que são facilmente extensíveis para permitir que as pessoas utilizem a API pública. Para construir, por exemplo, aplicações de comércio eletrónico ou serviços de entrega e coisas do género. Está integrado nos sistemas governamentais de Cabo Verde. Por isso, vai diretamente para o departamento financeiro local. Essencialmente como o IRS em Cabo Verde. Assim, ao emitir um recibo ou receber um pagamento, o sistema é automaticamente integrado nas finanças públicas. E este é um enorme ponto de fricção para as empresas em Cabo Verde.
“A nossa essência passa por reduzir barreiras e facilitar a inovação tecnológica. Tornar mais simples a entrada no mercado e desenvolver soluções e tecnologias que ajudem a chegar mais rapidamente ao consumidor. E com a maior eficiência de custos possível.”
Concentramo-nos em oferecer tecnologias de base que as empresas em Cabo Verde podem utilizar e com as quais podem construir as suas próprias soluções.