As ilhas de Cabo Verde e a maior delegação do continente africano
CaboWork: O que é que significa, para si e para a delegação de Cabo Verde, participar nesta Web Summit Lisboa na categoria de ‘speaker’, com dois painéis e uma conferência de imprensa? E ser o único país africano representado com um stand?
Pedro Lopes: Em primeiro lugar, quero dar os parabéns à CaboWork e felicitar o trabalho que têm feito para promover Cabo Verde, o qual é fantástico. Em relação às perguntas: eu acho que se trata de um reconhecimento do que Cabo Verde tem vindo a fazer em termos do digital, em termos de tudo o que está relacionado com tecnologia e inovação.
Por isso aqui estamos, a posicionar-nos como as ‘Ilhas Tecnológicas da África Ocidental”. Trouxemos connosco as nossas startups (10 startups), e ainda as startups da diáspora que se juntam a nós. Associamo-nos ainda a parceiros no setor privado e público. Chegámos com uma grande delegação de 50 pessoas.
“Temos muito orgulho de estar aqui como o único país africano com um stand e com a maior delegação do continente africano. Para nós, é um prazer”.
CaboWork: Muitos parabéns pelo bom trabalho. O que é que distingue estas startups e as torna especiais? Vemos que chegam a partir de diferentes partes do arquipélago, como por exemplo Santiago e São Vicente, e a partir de áreas de atividade diferentes. Porque é que foram escolhidas para estar aqui?
Pedro Lopes: Foram escolhidas por serem inovadoras. Têm muitas ideias para responder aos desafios que se impõem com a web. Em relação ao setor do Turismo e da Saúde, o nosso objectivo é que as startups de Cabo Verde ofereçam soluções para os nossos desafios.
Creio que estas startups são especiais pois são compostas por jovens mulheres e homens de Cabo Verde, das suas diferentes ilhas. Estamos a dar-lhes esta oportunidade porque estamos a investir nelas e neles. Acreditamos que são o futuro e o presente do nosso país. Além disso, queremos diversificar a nossa economia de Cabo Verde através do digital.
Lê mais sobre as startups de Cabo Verde representadas na edição de 2022 da Web Summit!
CaboWork: De acordo com as plataformas da Cabo Verde Digital, a vossa 4.ª participação na Web Summit está a ser devidamente celebrada com o lançamento da SiKaBaDu Summit na Sociedade de Geografia de Lisboa. O objectivo é cimentar o arquipélago de Cabo Verde como as ‘Tech Islands of West Africa’ (TIWA). Há quanto tempo é que este projeto está em desenvolvimento?
Pedro Lopes: Estamos a preparar este evento há um ou dois anos. Queríamos fazer algo diferente. Em primeiro lugar queríamos conectar-nos com a nossa diáspora, o que acreditamos ser muito importante.
Não apenas isso, mas temos muitas startups fundadas por cabo-verdianos/as que estão fora de Cabo Verde. O digital dá-nos a oportunidade de deixar de fazer uma separação entre cabo-verdianos/as que vivem em Cabo Verde e cabo-verdianos/as que não vivem em Cabo Verde.
Queremos interagir com estas pessoas e torná-las parte do nosso ecossistema*, pois fazem parte da nossa nação. A SiKaBaDu Summit terá em destaque as startups que trouxemos connosco de Cabo Verde e aquelas fundadas por cabo-verdianos/as que vivem no estrangeiro.
Também vamos falar sobre nómadas digitais, sobre como atrair talento para o nosso país, como o reter e sobre investimentos em tech. Será uma noite de celebração e de inovação, mas também uma noite de cultura. Isto é algo que valorizamos como cabo-verdianos e cabo-verdianas.
CaboWork: Mencionou atrair talento que está espalhado por esta diáspora. Qual é a sua visão para o futuro no que diz respeito a unificar o talento cabo-verdiano? Esta cimeira é o primeiro passo. Quais serão outros passos adicionais?
Pedro Lopes: Estabelecer parcerias fortes como estamos a fazer com vários ecossistemas e nações. Esta manhã fomos visitados pelo Ministro do Luxemburgo e também iremos receber a visita do ecossistema de França. Estamos a estabelecer relações e parcerias fortes com diversos ecossistemas e com o setor privado.
“Acreditamos que podemos ser uma porta de entrada segura para o continente do futuro, que é África, porque os jovens estão em África. Em conjunto, com a experiência destes ecossistemas, com o potencial de mercado que temos e com o talento cabo-verdiano existente, podemos fazer algo fantástico!”
CaboWork: Com o impressionante investimento tecnológico que Cabo Verde tem empregue em projetos como a Cabo Verde Digital e o programa de imersão GoGlobal, o qual trouxe estes/as jovens com espírito empreendedor à Web Summit, o que vem a seguir no que diz respeito à conectividade entre o talento de Cabo Verde, os trabalhadores remotos, os nómadas digitais e investidores/as que visitam e interagem com as ilhas?
Pedro Lopes: Eu acho que é importante unir os pontos. Acredito que seja um desafio e creio que a CaboWork pode desempenhar um papel importante, juntamente com outros intervenientes do setor privado.
Acreditamos que o governo tem a visão, as pessoas jovens têm o talento, e nós estamos a criar os programas. Temos vindo a criar as infraestruturas corretas, como o TechPark, reforçámos a nossa conectividade e criámos programas como o GoGlobal.
Ainda assim, o setor privado precisa de estar envolvido, de compreender esta mensagem e de seguir esta mesma visão. Desta forma, estaremos alinhados na mesma página e com o mesmo objectivo de devolver Cabo Verde através do digital.
CaboWork: Este é também o nosso projecto e iremos continuar a desenvolvê-lo e a estabelecer conexões e iremos manter-nos em contacto. Muito obrigada por falar connosco. Desejamos uma excelente continuação de Web Summit, para si e para a delegação de Cabo Verde.
Pedro Lopes: Muito obrigado e obrigado à CaboWork. Obrigado pelo vosso trabalho e visitem Cabo Verde, as ilhas tecnológicas da África Ocidental.
As Ilhas Tecnológicas da África Ocidental na Web Summit: Representação nos Painéis
Ao visitar a Web Summit, Pedro Lopes, Secretário de Estado da Economia Digital em Cabo Verde, participou em dois painéis como orador: “Global Perspectives on Regulation” e “Leaving no one behind: Exploring nationwide digital transformation strategies”.
Estivemos presentes nesta segunda conversa, sobre a temática de “Sociedades Futuras”, onde aprendemos mais acerca da importância de estratégias digitais transversais. Neste painel estimulante, Pedro Lopes viu-se acompanhado de Robert Opp, Chief Digital Officer do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que tem por objetivo a erradicação da pobreza e da desigualdade).
A importância de não deixar ninguém para trás no mundo digital foi acentuada, com várias estratégias de inclusão a serem discutidas e com Cabo Verde a ser destacado como um exemplo de boas práticas no que diz respeito a desenvolvimento tecnológico sustentável.
Como realçado por Robert Opp, um terço da população mundial ainda não está ligada ao mundo digital, sendo que as mulheres tendem a estar menos ligadas do que os homens e tais clivagens conduzem à pobreza e à exclusão tecnológica. É aqui que a digitalização entra em jogo, como uma ferramenta para encontrar pontos fortes e aptidões.
“A tecnologia tem de estar ao serviço das pessoas e não o inverso”
Robert Opp
Durante esta painel, Pedro Lopes argumentou a favor das ilhas de Cabo Verde, defendendo a forma como o arquipélago tem vindo a rescrever a sua história e a recuperar a antiga rota de escravos a favor do seu povo. Outrora um mercado de escravos, as ilhas de Cabo Verde contam agora a sua própria história, tendo em conta a sua posição estratégia e benéfica como o país africano geograficamente mais próximo dos EUA e do Brasil.
“Somos um pequeno país no meio do oceano, que sonha com a hipótese de ser um pólo digital”
Pedro Lopes
Da promoção de start-ups à estimulação de “guerreiros digitais“ em Cabo Verde, o Secretário de Estado da Economia Digital abordou muitos temas importantes nesta conversa. Nomeadamente, o arquipélago está a adotar uma abordagem proativa no que diz respeito ao ensino da robótica e dos princípios da programação às crianças, para que estas possam “tornar-se atores e não espectadores desta transformação”.
O TechPark de Cabo Verde, sediado na Cidade da Praia, na ilha de Santiago, com o seu projeto de tornar o arquipélago num centro regional de TICs, foi mencionado. Foi também deixado um convite aberto para que visitantes e nómadas digitais explorem a área.
Nota de rodapé: *Ecossistemas, neste sentido, associam-se à noção de ecologia política.